terça-feira, 8 de março de 2011

Resenha

CANDAU, Vera Maria(org.). Cultura, Linguagem e Subjetividade no ensinar e aprender. Rio de Janeiro. Ed. DP&A, 2000.
Esse livro é uma coletânea feita a partir do X ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino), evento de educação realizado em maio de 2000, na UERJ, tento como temática central “Ensinar e Aprender: sujeitos, saberes, espaços e tempos”, a pesquisadora Vera Candau foi a Coordenadora Geral do evento.
Pela especificidade da obra acima, optei por resenhar quatro dos dez textos que compõem o livro. Por perceber sua ligação direta com o título da obra em questão.
A escrita Subjetividade, Contemporaneidade e Educação, de Joel Birman, afirma ser a subjetividade uma das matérias primas do campo educação e é em torno desta que os operadores e engrenagens que compõem o processo educativo fazem com que suas práticas e propósitos aconteçam.
O autor utiliza um estudo Freudiano para embasar a afirmação de que educar, governar e psicanalisar são campos sociais marcados por práticas caracterizadas pelo impossível. Explicada pelo fato de que todos três convergem para o campo das intenções, porque querem fazer, realizar, porém nem todos conseguem ou podem. O ensaio do autor segue tecendo comentários desta formulação do estudo de Freud, a fim de decifrá-la. Conclui sua escrita afirmando que a educação continua sendo algo desafiador, da mesma forma que a psicanáise e a governabilidade, apesar das mudanças sociais e temporais. Sugere ainda que devemos reconstruir o sentido do que é educar, psicanalisar e governar, pois já não sabemos seus significados e sua serventia, devendo pensar o futuro a partir destas possibilidades.
Birman traz para discussão uma questão levantada há muito tempo, desde a época de Sigmund Freud, mas que permanece até nossos dias um tema extremamente atual. A forma como é conduzida as três vertentes em análise vem se alterando constantemente a ponto de se perder o sentido ao longo dos tempos. Ainda não havia refletido profundamente à cerca desta questão, Apesar de ser um texto (discurso) produzido por psicanalista, é pertinente e especialmente relevante para o estudo e leitura em todas as áreas do conhecimento.
Em Sujeitos e subjetividade nas tramas da linguagem e da cultura, de Marisa Vorraber Costa, a autora faz alguns recortes para esboçar o tema central e discutir as concepções de sujeito e de subjetividade na contemporaneidade, o que julga ser um tema que nos remete à polêmicas discussões filosóficas, onde há contraposições de séculos anteriores às visões modernas e pós-modernas. Traz também em seu texto suporte teórico de Michel Foucault e diversos outros pós-estruturalistas, para descrever o novo sujeito, que se caracteriza pela descentralização, despojamento e identidade não fixa.  Costa utiliza estudos e pesquisas para mostrar como a linguagem em seu amplo aspecto consegue fortalecer culturas, criar visões diferentes de indivíduos ou sociedade e até mesmo aprisionar identidades culturais.
O texto de Marisa Costa nos faz perceber o quanto um conceito ou visão de algo podem ser deturpados a partir do uso manipulador dos artefatos culturais, inclusive os midiáticos. Recomendo o texto para qualquer estudante, em especial os que optam ou gostam de estudos culturais contemporâneos.
Espaços e tempos educativos na contemporaneidade: a Paidéia democrática como emergência do singular e do comumLílian do Valle. Texto iniciado com uma tentativa de construção do conceito da palavra identidade, que perpassa por outras nomenclaturas eleitas pela autora, como permanência e coexistência, o que a leva a discordar da lógica tradicional identitária, pois para falar de identidade deve se localizar no tempo e espaço que não são fixos modificam-se constantemente. Diante disso, a educação é capaz de engendrar não apenas um espaço, mas espaços, não apenas tempo, mas tempos, nos indaga. Segue com uma série de questionamentos, ponto de partida para reflexões individuais e coletivas a respeito dos espaços e tempos educativos.
Percebo que Lílian do Valle em suas colocações pretende fazer com que os ouvintes/leitores reflitam à cerca do binômio espaço/temporalidade que envolve o ensinar e aprender. Objetivo alcançado com êxito pela autora, pois a forma com que a mesma conduz sua narrativa, a todo o momento nos indaga sobre questões não puramente filosóficas, mas também de cunho prático direcionadas às concepções individuais. Fez-me lembrar da Metáfora do Relógio, quando discutimos (em sala e no ambiente moodle) a práxis frente à crise do conhecimento. Perfeito!
E por fim o texto Linguagens e tecnologias na educação de Nelson De Luca Pretto, que traça um breve panorama histórico sobre o desenvolvimento científico e tecnológico do mundo contemporâneo, para analisar o surgimento de novas linguagens partindo das tecnologias da informação e comunicação. Elege um dos primeiros aspectos para reflexão a relação do ser humano com as máquinas, a priori a tecnologia era associada à arte, com o surgimento da ciência moderna é associada ao logos, a razão. Neste patamar a tecnologia ainda aparece como neutra e está a serviço do homem, logo passa a ser quase autônoma, com um desenvolvimento ilimitado e livre de qualquer imperativo ético, relata Pretto. Ao citar Santaella, elenca três níveis que a mesma elege para classificar a relação homem-máquina; o primeiro é o muscular-motor, o segundo é o nível sensório e o terceiro o cerebral. Cada nível representa uma fase relacional.
Pretto em seu texto cita diversos exemplos de como está se dando uso das tecnologias da informação e comunicação nas artes, na mídia e no sistema financeiro. No que concerne a educação, deixa claro que o uso utilitarista e instrumental da tecnologia já não cabe mais na contemporaneidade. A tecnologia deve ser utilizada em seu sentido pleno, havendo interação da máquina com quem a opera, o que requer pensar no desenvolvimento de competências dos sujeitos às novas tecnologias da comunicação e informação.
Concordo plenamente com as colocações do professor. Recomendado como leitura básica no Módulo I e por mim também!
Cultura, Linguagem e Subjetividade no Ensinar e Aprender é uma obra extremante rica, pois consegue agrupar em seus textos (todos os dez) conceitos e questões que perpassam pelas áreas da Psicologia e Psicanálise, Filosofia, Políticas Públicas, Educação e Formação de professores. Oferece relevantes contribuições para os leitores interessados na temática central.
Manuela Santana dos Santos, cursista da Pós-Graduação em Tecnologia e Novas Educações, pela UFBA-FACED.

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